domingo, 5 de setembro de 2010

POEMA

Um poema para Tereza*


Arrebatados das savanas africanas, caçados com requinte de crueldade pela lógica de almas desumanas.
Nos porões da escravidão, na escuridão das noites frias, cantavam uma antiga canção, evocando os deuses e suas magias.
Eram homens e mulheres livres, agora escravos da arrogância ocidental.
Heróis anônimos ou martiris? Dominados pela ganância do capital.
Deles descende Tereza. Preta como noite sem candeia, bela como a tigresa em noite de lua cheia.
Foi graduada como doutora da vida pelo conhecimento da cultura de seu povo. Enfrentava os desafios da lida e o que era velho ficava novo de novo.
Ela poderia ser a tataraneta do rei do Congo se não fora a ganância da exploração capitalista que apartou a alma do espírito. Tereza do tango.
Numa sociedade individualista e escravagista, Tereza viveu sem sucesso no Sítio Bom Sucesso, que o escravo Trajano lhe deixou por herança, mas ali só conheceu o insucesso, sem, contudo, perder a esperança.
Hoje ela deixou os Negros do Riacho: Companheiros de infortúnios. Não se queixava da fraca luz do facho, apesar da caminhada e seus suplícios.
Um canto triste ecoou. Eram vozes sublimadas de perdão, que do seio da terra bradou como grito de dor e reconciliação


* Tereza era membro da comunidade quilombola "Negros do Riacho",
município de Currais Novos - RN.

Autor: Prof. Francisco Candido Souza - Currais Novos/Rio Grande do Norte.